terça-feira, 14 de julho de 2009

Adsolar e o IPTU que ajuda a Globo

Adsolar era apaixonado por televisão. Bom patriota, não abria mão da programação nacional. Mas não suportava TV por assinatura. “Capricho burguês”, murmurava. Orgulhava-se da qualidade audiovisual pátria. Mas achava que ainda havia o que melhorar. Resolveu fazer sua contribuição. Nada de produções caseiras no Youtube. Queria dar dinheiro, mesmo. Nenhuma emissora aceitou. Inconformado, Adsolar se informou. Descobriu que em Muriaé era possível pagar para assistir à Globo. E ao SBT. E àquelas outras. Vem no carnê do IPTU. Não pensou duas vezes. Arrumou as malas e se mudou. Conseguiu chegar antes do dia 7 de junho. “Dá pra pegar o desconto”. Está satisfeito! Deu R$ 100. Outro dia, comprou uma revista de fofoca. Descobriu o salário do Faustão. Milhões por mês. A cifra inflou-lhe o ego. “Parte disso sou eu quem banca”.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Clóvis, um visionário

A ficção científica sempre foi a paixão de Clóvis. Adora H.G. Wells. E Isaac Asimov. Não fosse médico, seria escritor. Ou cineasta. Gostava de tudo nesse gênero. Das viagens no tempo à vida extraterrestre. Seu maior xodó, no entanto, eram os ciborgues. Desafiar os limites do ser humano. “Onde começa a máquina e termina o homem?” Até arriscava umas linhas. Tinha vergonha do resultado. Mas estava decidido. Iria criar alguma coisa. E o destino de sua obra seria a posteridade. Resolveu parar de filosofar. Pôs a mão na massa. Do primeiro paciente que apareceu. Um homem de 52 anos. Implantou-lhe uma vara de platina. Coisa de uns 25 centímetros. Inserida no meio do pé. “Vai pisar mais forte agora”. O neo-andróide não achou legal. Sua parte humana sentiu dores. Foi ao UHA (Único Hospital que Atende) em Muriaé. Chamou a PM. Clóvis desapareceu. Está preocupado. Com o futuro da humanidade. Se for preso, vai ficar difícil ajudar John Connor quando o Exterminador do Futuro aparecer.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Viva a interatividade

"Prezado Mefistófeles,
Que grande desrespeito à nossa sociedade representa essa sua publicação. Muito se usa, atualmente, de maneira falaciosa, a liberdade de expressão, conquistada após a ditadura, a duras penas, como justificativa para quaisquer baboseiras. Pois eu acredito que deve haver responsabilidade no emprego da palavra. E que esse seu blog deveria ser censurado. Não há uma só linha que mereça consideração neste seu “trabalho”, única e vergonhosamente dedicado a explorar mazelas humanas. Francamente, deveria se envergonhar disso tudo. Espero que se sensibilize com meu apelo.
Passar bem.
Juverânia Locuplécia Loures"

Dico e a festa sem fim

Hoje a festa não tem hora para acabar. Foi o que disse o cantor sábado à noite. E Dico acreditou. Tanto que levou ao pé da letra. Era madrugada. O rapaz avistou duas moças. Estava animado pelas palavras do vocalista. Ofereceu-se como companhia. E acompanhou uma delas até um terreno baldio. Depois de um diálogo não muito amistoso. “Ás vezes, tem que ser na marra”. E foi. A outra correu. Dico também – depois da segunda festança. As amigas foram parar no UHA (Único Hospital que Atende). Denunciaram o suposto estupro. Que tanto satisfez Dico. “O show não pode parar”.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Confissões virais

Cinco anos como recepcionista geram muitas histórias. Num hospital, nem se fala. O sangue faz parte da rotina. Josefa não se importava mais. Viu e ouviu de tudo. Mas a mais recente ela preferiria não saber. Principalmente tão de perto. O rapaz se aproximou. Ia-lhe contar um segredo. Antes, tossiu feio. “Cheguei de Buenos Aires”. Era a senha. Lembrou-se do botão de alarme nos bancos. “Vi num filme, podia ter um aqui”. Pediu licença um minuto. Chamou um médico, desesperada. Foi tomar banho. E um antiviral. O seguro morreu de velho. Porque não teve gripe suína.

Encontros noturnos

A boemia não perdoa. Os credores, idem. E os cobradores, muito menos. Três e trinta de sexta-feira. Madrugada quente no inverno muriaeense. Adalberto não quis ficar em casa. “Só tem gente chata lá”. Pegou R$ 10 e saiu. Queria encontrar a galera. Mas quem o encontrou foram quatro balas de revólver. “Devia ter ficado com a gente chata”. O assassino sumiu. Menor de idade, assim como Adalberto. Daqui a pouco, acaba sendo encontrado. Sabe disso. E vai ficar quieto em casa.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Vieiras, o banco e a moda


Nas cidades pequenas, respira-se a energia campestre. Tudo é tranqüilidade no ambiente de harmonia com a natureza. Mas a globalização reserva surpresas. Juvenal mora em Vieiras (MG) desde que nasceu. Lá se vão 59 anos. No mais recente deles, e ontem, ali pelas 14h, descobriu um novo mundo. Foi sacar dinheiro na Caixa. E encontrou outras pessoas sacando também. A maioria, valores. Dois outros, armas. O capuz é artigo obrigatório nesses episódios. Compõe o cenário tanto quanto o tresoitão. Para o banco, menos R$ 1.403 em dinheiro. E coisa de uns R$ 800 em cheques. Juvenal ficou sem R$ 602. Mas tomou importante decisão. Vai a Muriaé se integrar às novas tendências. Quer comprar uma touca ninja. Espera, pelo menos, ser assaltado com mais estilo da próxima vez.